domingo, 31 de maio de 2009

Não estou lá

- Tu viste aquele filme do Almodóvar?
- Vi!
- O que tu achaste?
- Uma bosta.
- A gente tá falando do mesmo filme?
- Tu tá falando do Kika?
- Sim!
- É, uma bosta.
- Ai, mas o filme é ótimo.
- Capaz, é um lixo – uma maquiadora, que se apaixona por um defunto que não é defunto. Por favor, né?Eu esperava mais de ti.
- Eu não tenho que gostar do que tu gosta.
- Nem eu do que tu gosta.
- Ai... Enfim – tu vais sair hoje?
- Acho que sim.
- Aonde tu vais?
- Comprar cigarro.
- E depois?
- Voltar pra casa e ouvir Fito Paez.
- Posso ficar aqui contigo?
- Na verdade eu ia te perguntar isso.
- Te amo.
- Também te amo. Tu vais querer passar na tua casa pra gente pegar umas roupas?
- Ah, sei lá... Acho que não precisa. Deixei um moletom e uma calcinha aqui finde passado.
- Ah, que bom – tô sem grana pra gasolina.
- Bem capaz, se fosse o caso, eu colocava gasolina.
- Tu sabes que eu não gosto que tu pagues as coisas.
- E tu sabes que a gente ainda vai terminar por causa desse teu orgulho idiota.
- Não começa!
- Mas é sério...
- Não começa! Tá, vamos lá compra cigarro?
- Vamos. A gente podia passar no super também, e comprar um vinho e um chocolate, né?
- E um filme na locadora?
- É!
- Deu pro Fito Paez.
- Deixa de ser chato!
- Tá, mas Almodóvar não!
- Alguma coisa em mente?
- Não. Lá a gente vê. - Tá, Sofia, tu ta pronta?Tu tá à meia hora nesse banho... Vamos antes que eu mude de idéia.
- Pronto. Tava secando o cabelo. Já disse que eu te amo?
- Não...
- Vamos daqui a pouco?
- Por quê?
- Vem cá...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Eco

Time – Pink Floyd.


Midas revés – tô me sentindo assim: Tudo que eu toco se transforma pra algo ruim.
Desisti de cultivar amigos – não vale à pena. Pessoas não valem a pena.
O bom mesmo é ser e estar sozinho – não se tem ninguém pra conversar, mas também não se tem ninguém pra dizer “verdades”.
Pessoas que aparecem na minha/nossa vida chegam até nós com um único propósito: Estragar o pouco que resta.
Há alguns textos que eu escrevi aqui, eu citei que se manter lúcido é algo complicado. Manter-se sóbrio, lúcido – de pé, no dia-a-dia, é coisa de louco!

Não dá, é uma rasteira atrás da outra.

Nenhum dos meus escritores favoritos me traiu alguma vez. Sempre que precisei de um deles, lá estavam; prontos pra mim, com poeira entre as páginas, só esperando serem folhados pra me ajudar. Eu fico com meus livros.

Lembrando novamente de alguns textos, eu meio que clamava por uma companhia – uma simples conversa numa grama úmida, num domingo com um sol e uma brisa bem fresquinha. Mas eu não quero mais: Eu quero ficar sozinho – pra sempre.

Eu nem sou adepto do pra sempre. Eu acho que o Renato que tava certo: “O pra sempre, sempre acaba.” – e isso só podia ter vindo dele.
Eu cheguei a algumas conclusões sobre solidão, namoradas e amigos – basicamente a mesma que me transformou em agnóstico – quando se sai de casa, pra encontrar amigos num bar, que se está feliz por ter pessoas que se lembraram de ti, e chega-se no bar e, não tem ninguém, e depois se fica sabendo que eles se esqueceram de ti... Isso dói muito, isso dói de mais. Porque veja bem: Se tu saíres de casa, já sabendo que tu és e estás sozinho, tu não cria expectativas nenhuma sobre nada nem ninguém. Agora, se tu sai de casa, achando que tu vai encontrar teus “amigos”, tua “namorada” – e mais uma vez tu leva um bolo, tu além de ter gasto passagem, tu ainda volta com uma puta duma frustração, uma baita de uma decepção... Um sentimento super profundo de ser sozinho.

Eu prefiro ficar com uma decepção só. Prefiro ser consciente de que eu sou e, estou sozinho – do que ficar me enganando que eu tenho amigos, só porque alguém resolveu me ligar numa terça-feira à tarde.

Sobre as garotas, qualquer coisa que eu diga eu passo por machista, porco nojento. Tá, deve, deve ter alguma guria perdida aí pelo mundo – eu não achei ainda... E sinceramente nem tô mais procurando.
Não vou entrar no mérito “guerra dos sexos” – mas puts... Tá complicada a coisa.

Eu acho que o dito do “Se aprende a gostar” é fato. Eu ando começando a aprender a gostar da minha solidão, aprendendo a gostar de ser eu, eu e os entretenimentos solos.

Pessoas são falsas, fedorentas e estúpidas – sozinho, não se sofre nada disso. Exceto que tu seja tão asqueroso, que nem tu te agüenta... Mas aí fica pro próximo post.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Rima Pobre


Tuas manias irritantes,
Tuas risadas tão marcantes –
Até quando vou aguentar?

Tua cara deslavada,
Teus encontros nas escadas –
Por que eu devo relevar?

Brigar contigo é tão inútil,
Sinto-me sempre assim, tão fútil –
E minha rima é de aversão!

Me fazer gastar saliva
Demover-te das besteiras –
Não me ouvir é diversão.

Então vá sem mais delongas,
Porque sempre no final das contas,
Eu acabo por pedir perdão!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Super-Herói

"Me faça um favor?Mantenha-se distante de mim. Mas não distante o bastante que eu não possa te ver – fique daqui dois postes de mim – longe o bastante das minhas mãos, mas perto o suficiente pro vento me trazer teu perfume.

Não encare mal as minhas ofensas, elas saem no afã de te ter.
Não entenda errado os meus pedidos, eu só queria me sentir um pouco bem.

Continue sua vida, como se eu nunca tivesse existido – exceto pelo fato de saber que eu continuo ao lado deste poste – tão inerte quanto ele – esperando que tu voltes alguns metros: Ao alcance das minhas mãos, e das possibilidades do meu olfato.

Me desculpe pelos transtornos – só quis me fazer presente – não quis causar incomodo.
Não estou me vitimando – apenas relatando fatos.

E se de vez em quando, tu notares que a parede ao longe andou – não se preocupe, sou eu.”

E o garoto fechou seu livro, o pôs sob a mesinha de cabeceira e dormiu, para encarar mais um dia de Office Boy.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Nunca mais


Existia um garoto, um garoto que morava no subúrbio de Londres. Ele saía sozinho geralmente, saía pra beber algo em algum pub, ou pra ler sentado próximo ao rio.
Um dia, numa de suas idas a um dos pubs próximos à Oxford, ele encontrou um homem não muito velho, mas que também pra novo não servia, que viu que o garoto não estava muito contente.
Foi então que ele perguntou ao garoto:
- Hei, garoto, aceitas uma Heineken?
E o garoto respondeu:
- Aceito sim.
Eles conversaram sobre música, bebida e maconha.
Foi então que o homem lhe perguntou:
- O que lhe aflige, Garoto?Estamos a mais ou menos duas horas conversando, e você não pára de futricar nos amendoins da mesa, com esses olhos tristes. Com uma cara de quem não sabe pra onde vai, mas sabe de onde vem - e gostaria de voltar, mas não pode. – e então o garoto lhe interrompe:
- Quem tu pensa que és pra dizer quem eu sou ou deixo de ser – ou o que se passa comigo!? – não é uma merda duma cerveja que lhe dá o direito de se meter na minha vida!
- Eu só quis ajudá-lo.
- Sério?Não queira, então!
- Garoto, eu vejo nos seus olhos uma falta de brilho; uma falta de brilho que eu tenho, tive – eu não sei.
- Se tu não sabe o que se passa contigo, como pode saber o que se passa comigo?
- O que lhe aflige, Garoto?Talvez faça bem falar!
- Pra quê?Pra tu saíres do pub, acender um cigarro na porta, e esquecer tudo?Fazer como todo mundo sempre faz?Se aproximar de mim, tirar tudo que pode, fazer eu me expor tudo que dá – e depois me deixar sozinho?Obrigado, meu bom Senhor – prefiro ficar só, do que ter uma nova decepção!
- Tu és amargo, Garoto.
- Eu sei, e tu um ridículo.
E o garoto levanta do banco, matando meia garrafa de cerveja num gole só.
Ele abriu a porta do pub, deixando aquele som britânico ser abafado com a porta que se fechava pelas suas costas. Enxugou as lagrimas com sua jaqueta, acendeu um cigarro, e resolveu ir até a ponte – afim de achar uma saída.
No caminho ele foi chorando e ouvindo Blackbird, dos Beatles – em seu contorno tinha uma grande fumaceira – em parte do cigarro, e o resto do frio.
- Por que sempre sozinho? Eu só queria me divertir com pessoas, como pessoas normais fazem. Sair de casa, e ter com quem conversar – ter uma garota pra ser tão legal comigo, como eu posso ser com ela. Eu estou cansado.Cansado de sempre ser jogado pra escanteio – com um motivo muito forte e que me impõe a compreensão.Por quê?Por quê!
E ele senta-se no cordão da calçada, com a cabeça entre as pernas e, os cotovelos sobre os joelhos.
O guarda que passou, não teve motivos para abordá-lo, e seguiu seu caminho até a esquina. No trajeto de volta, não viu o garoto inglês... O guarda não o viu, nem mais ninguém.

domingo, 3 de maio de 2009

A Gente?


A gente se perde escrevendo – querendo sempre aquilo que sempre está fora do nosso alcance!
Às vezes as coisas ficam tão aparentemente fáceis... Me sinto uma criança de alguns meses apenas, posicionada no braço de um sofá, e ao lado do sofá tem uma pequena mesinha, que nessa mesinha tem alguma coisa muito atrativa, e eu quero pegar... Eu ignoro o vão que há entre a mesa e o sofá – e literalmente me atiro em busca do tão atrativo “algo”.
O pior, é que eu pareço uma criança, mas uma criança burra – porque eu sempre caio nesse vão – e sempre fico sem o “algo”.
Não sigo nenhum protocolo de boa conduta, não copio cena de filme nem finjo ser Hamlet – mas não dá certo. Pros outros tudo parece tão fácil... As coisas fluem tão facilmente pra eles, e pra mim é tudo tão tortuoso – tortuoso de um modo, que quando ocasionalmente eu consigo, perde todo o gosto.
No meio dos meus livros, cd’s, Lp’s e filmes eu não me sinto tão sozinho – quer dizer, me sinto, mas eu consigo ser mais imbecil ainda, mentindo pra mim, e acreditando que aquilo não é solidão – é vontade de estar sozinho.
Cansa, sabia?A gente cansa – e às vezes a gente enlouquece.
De uns meses pra cá eu cheguei a uma conclusão bem forte: Enlouquecer é fácil – não é preciso quase nada – o problema, a incógnita dessa questão, não é o enlouquecer, e sim o manter-se são – manter-se lúcido. Ficar normal, após cada queda, cada tombo doído... É uma tarefa árdua.
Passar um tempo cobiçando algo, querendo aquilo de mais – mas sempre dando valor, aos malditos bons costumes – bem feito pra minha cara.
Não consigo sentir tristeza, raiva ou magoa de ninguém (na atual situação). Sinto tudo isso de mim – única e exclusivamente de mim – raiva por ser tão idiota, magoa por ser tão infantil às vezes e, tristeza por mais uma vez não conseguir aquilo que há tanto tempo eu quero tanto.
Eu me meto nos problemas, e sempre fico tendencioso a carregar as pessoas comigo – claro, elas nunca vão – mas bem que eu tento.
Filmes ultimamente andam significando muito mais que música – mas tem um filme que só o nome anda me irritando: “A Procura da Felicidade” – eu já virei agnóstico, ranzinza e pessimista – mas... Chega né?Se não tiver mais nada pra eu acreditar – eu vou cometer um “Auto-suícido-a-mim-mesmo”.
Por mais que eu faça, eu nunca basto – eu sempre chego atrasado, sempre falo coisas erradas nas horas certas.
É um toque, um beijo – um telefonema pra dizer que vai passar em casa pra tomar banho antes de vir pra cá... Sabe?Não tô pedindo um milhão de dólares (não se encabulem se quiserem fazer doações.), eu tô pedindo meu pedacinho de felicidade, pedindo meu cantinho de terra pra escrever meus romances com nomes engraçados, ouvir Bob Dylan numa soleira – e levar um café na cama pra ela.
Eu voltei ao meu tédio de antes – tive um suspiro de sair dele... Mas já taparam minhas narinas: “-Não respira, bobalhão!”
Eu fico aqui – de casa pro trabalho, do trabalho pra casa... Sozinho, sem ninguém. Baixando filme da internet e brigando por uma legenda pra por no filme.
Tudo bem, se eu esquecer o fato que eu vou fazer dezoito anos, to “cheio de vida”, até que não é tão mau assim, passar dia após dia trancado dentro deste minúsculo apartamento.
Me ocorre agora, é que uma porrada de gente que vai ler essa merda desse texto (alguns vão comentar, outros não), devem estar pensando: “- Bá, que cara bem dramático.” – se, estiverem pensando isso, eu lhes digo: “- Concordo.”
Estou cansado. Cansado de procurar por alguém que eu sempre acho, e nunca vem...
Não é há pouco tempo – faz um longo tempo, que eu ando escondido pelos cantos das paredes, observando cada movimento, passo e gesto – achei que isso fosse me ajudar em alguma coisa.



“Eu só quero te abraçar.
Eu não quero te prender...”



E pra piorar tudo, o meu cigarro vai à R$3,75 – olha, cansei!